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A POLÍTICA E O CONSCIENTE EXERCÍCIO CÍVICO - ENTREVISTA COM MARCOS PAPA

A POLÍTICA E O CONSCIENTE EXERCÍCIO CÍVICO - ENTREVISTA COM MARCOS PAPA

ENTREVISTA COM VEREADOR ESPÍRITA

 

 

A POLÍTICA E O CONSCIENTE EXERCÍCIO CÍVICO - ENTREVISTA COM MARCOS PAPA

 

Marcos Papa, 52 anos, natural de Ribeirão Preto (SP), é bacharel em Direito. Atualmente é líder da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS), membro do grupo de oradores da União das Sociedades Espíritas Intermunicipal de Ribeirão Preto e do Conselho Deliberativo da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto. Exerceu a presidência da Unificação Kardecista de Ribeirão Preto, participou da diretoria executiva da Casa do Vovô, entidade filantrópica destinada a acolher e assistir idosos carentes em situação de risco social e abandono, e estruturou a construção do Supera Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto. Em 2016 foi eleito para o segundo mandato como vereador em sua cidade natal (seu trabalho pode ser conhecido pelo site www.marcospapa.com.br). Pela experiência adquirida na vida pública, fala recorrentemente sobre o tema em veículos e instituições espíritas. Visando às próximas eleições em outubro, nesta entrevista ele fala a respeito da desilusão dos brasileiros sobre a política, os desafios morais envolvidos no exercício de cargos públicos e qual a contribuição do Espiritismo para elucidar nossas reflexões.

 

RIE – Estamos em ano eleitoral e percebe-se uma desilusão coletiva em torno da política? Há solução? O que fazer?

Marcos Papa – Sim, há solução! Será uma eleição dificílima, num momento dramático que nos pede o afastamento das polarizações estéreis e a consciência da nossa responsabilidade, agindo constantemente na construção de uma organização social mais justa, próspera e humana. Reencarnamos em sociedade; é a Lei, sabemos. É imperioso nos organizarmos com os princípios éticos ensinados por Jesus, relembrados e aprofundados pela Doutrina Espírita, dialogando nos estudos dos problemas que nos afligem, encontrando soluções e definindo prioridades. Isso é fazer política! Nossa indignação é com os delinquentes travestidos de políticos, que fazem da política um negócio e o que temos testemunhado são negócios sujos. É nosso dever dar um basta nisso! Neste ano teremos mais uma chance de avançar com os nossos valores, evitando a omissão e inspirando nossos irmãos a participar do exercício cívico do voto consciente e transformador.

 

RIE – A sociedade brasileira pode ser considerada madura o suficiente para o debate de questões político-democráticas?

Papa – A maturidade vem com a experiência. Acertando e errando construímos nossa evolução. Individualmente também é assim e, por isso, reencarnamos. Felizmente vivemos numa democracia, que estamos aperfeiçoando, mas somos livres para debater, aprender uns com os outros e encontrar nossos caminhos. O interesse e o estudo para a solução de nossos problemas nos posicionarão melhor em debates necessários e urgentes para a tomada de decisões importantes. Emmanuel nos recomenda um passo por dia para uma paisagem melhor amanhã! Não tenho dúvida de que somos capazes de evoluir para a condição de país desenvolvido.

 

RIE – O voto obrigatório ainda é uma necessidade?

Papa – Votar por obrigação tem um componente psicológico ruim, porque nos tira a força das decisões que tomaríamos por conta própria. O voto deveria ser facultativo.

 

RIE – Os meios de comunicação pedem, frequentemente, que o voto seja consciente, mas como seria efetivamente possível distinguir um bom projeto de outro duvidoso apenas com a propaganda eleitoral?

Papa – O ser humano é um animal que deixa rastro. Precisamos olhar o rastro, ou seja, a experiência vivida, a folha de serviços prestados, o currículo. Não é assim quando pedimos emprego? O empreendedor ciente observa a experiência daquele que busca uma oportunidade de trabalho. Nosso empreendimento político exige essa postura, elegendo quem tem aptidão para servir aos interesses da comunidade e afastando os desqualificados que querem atender interesses próprios e os daqueles que os financiam.

 

RIE – O Espiritismo permite, por característica, expandir os horizontes de análise em qualquer área de conhecimento. Dessa forma, qual a contribuição para a reflexão política?

Papa – O tripé da Doutrina Espírita, “Ciência, Filosofia e Religião”, abre dois campos imensos para contribuição nas reflexões políticas. A Lei de Sociedade é inspiradora e orientadora para nossos estudos em política. A Lei de Conservação é excelente aula de Sustentabilidade. Temos nas Leis Morais um divino acervo de conhecimento que deve nortear nossos debates políticos, sem a pretensão de sermos donos da verdade, mas expondo nossa visão de mundo, abraçando trabalhos no campo da política com a “fé operante” a nós ensinada por Chico Xavier, inspirando otimismo, praguejando menos e produzindo melhor.

 

RIE – A atuação de um político íntegro está mais desafiadora agora? Ele pode desiludir-se, após eleito, ao constatar as dificuldades de viabilizar um projeto de forma honesta?

Papa – É desafiadora porque o político íntegro não ilude o povo com promessas populistas que rendem votos nem cria no assistido vínculos clientelistas de dependência, com o objetivo perverso de formar currais eleitorais e perpetuar-se no poder. Não fazendo da política um negócio, tem escassos recursos financeiros e essa tremenda dificuldade o coloca em desvantagem com os que nadam no farto dinheiro da corrupção. Entretanto, somos a maioria e acredito ser possível a vitória eleitoral e a vitória no mandato obedecendo nossos princípios. Políticos éticos e qualificados quando no Executivo fazem boa gestão, inovam, transformam e promovem o progresso. No Parlamento, fiscalizam, investigam o Poder Executivo e denunciam quando necessário. A desilusão é filha da ilusão. Abraçar trabalhos no campo da política é ao mesmo tempo desafiador e gratificante porque não paramos de aprender saberes de várias áreas e de várias pessoas. Isso nos motiva a superar o cansaço físico, que é extremo.

 

RIE – Como não se deixar seduzir pelas facilidades que o poder oferece?

Papa – O poder não muda as pessoas, ele as revela. Jesus ensina que “só lobos caem em armadilhas de lobos”. Também revela a lei universal que determina dar a cada um segundo suas obras. Colheremos aquilo que plantarmos. Nosso dever é multiplicar os talentos que recebemos. Se aquele que devolveu o talento foi severamente castigado, imagine o que ainda está roubando! Poder é oportunidade de servir fazendo o bem. Quem não tem sólida convicção disso deixa-se seduzir pelas facilidades de todo tipo, perde-se e põe a população a sofrer, razão pela qual os poderes constituídos devem ser constantemente fiscalizados, a internet assumindo nesse contexto um papel indispensável como veículo da transparência.

 

RIE – Considerando que a exposição franca de preferência partidária por esta ou aquela agremiação pode suscitar desavenças no ambiente do centro espírita, como debater o tema de forma saudável?

Papa – Temos de impedir que se fale em preferência partidária e eleitoral no centro espírita. Tratemos da política enquanto ciência e filosofia, conscientizando os frequentadores das responsabilidades que todos temos de remover os obstáculos para o progresso e promover a Terra à categoria de Mundo de Regeneração. Quando o tema for política partidária e eleitoral, procuremos as casas dos amigos que se afinizam com nossos trabalhos para somarmos forças em nome das transformações para o bem. Precisamos nos engajar por amor. A ganância já fez estragos demais.

 

RIE – Qual a sua opinião sobre partidos que se utilizam da bandeira religiosa para pautar sua atuação? Tal prática deve ser evitada?

Papa – Atitude lamentável e nociva. Erigir nosso Estado Democrático de Direito, regulador e fiscalizador, e respeitar a liberdade de empreender são construções que demandam esforços árduos da sociedade e não podem ser influenciados por colorações religiosas. Também temos de fiscalizar quem abusa do poder religioso. Foi feliz a recentíssima decisão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) que puniu um pastor de Campos do Jordão por abuso[1]. Ele usava o templo para pedir votos a um candidato de sua preferência.

 

RIE – O povo brasileiro é simpático a figuras paternalistas na hora de escolher seu candidato? Assim como acontece na reforma íntima, precisamos esperar menos do governo e iniciar a nossa própria mudança de postura?

Papa – Sim, infelizmente ainda somos. Tudo o que não precisamos é de uma liderança carismática e paternal nos dizendo o que temos de fazer. O que precisamos é do ativismo autoral para protagonizarmos as ações necessárias nesse momento. Enquanto entendermos que política é coisa apenas de políticos, continuaremos reféns de assaltantes travestidos de políticos. Unificar os pleitos num só ano ajudaria a arejar o cenário político e abriria oportunidades para novas lideranças.

 

RIE – Suas palavras finais.

Papa – Há uma razão profunda para termos reencarnado no Brasil e não na Síria, no Haiti ou em Ruanda. Num país como o nosso onde tanto há por fazer, as oportunidades de trabalho são imensas. Vivemos os estertores de um modelo insustentável de civilização calcado no orgulho e no egoísmo. Léon Denis nos ensina, no magistral Depois da Morte, que toda morte é o prenúncio de um renascimento. Desse caos vamos renascer melhores. “A perseverança no bem desfaz todas as sombras.”[2] Deus não colocou uma classe de políticos éticos nos países desenvolvidos e antiéticos nos outros. O que houve foi trabalho árduo daquelas sociedades no sentido de entender seus problemas e encontrar soluções que a ciência já nos possibilita. Falta assumir o compromisso ético de usar as conquistas da ciência em benefício das pessoas. Mãos à obra, portanto!

 

1. Nota da Redação: O vereador Arlindo Moreira Branco teve seu mandato de vereador cassado, em decisão publicada no dia 9 de abril deste ano, após acusações de que teria pedido votos, em 2016, durante culto em uma igreja evangélica, o que configuraria crime eleitoral e abuso de poder religioso.

2. XAVIER, Francisco Cândido. Taça de Luz. Espíritos diversos. LAKE.

 

Transcrito de: Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCIII. No. 8. Setembro de 2018

clarim.org/oclarim/materias/5811/revista/2018/Julho/a-politica-e-o-consciente-exercicio-civico-entrevista-com-marcos-papa.html

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